sexta-feira, 16 de setembro de 2011

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Nós e a chuva

Nós dois aqui sentados
e os sentimentos desajustados:
o que me importa agora é ter-te
bem perto, certo que estou
que o amor que sinto
também arde em ti.

A chuva já passou faz meia hora,
eu preciso ir embora,
pois lá fora o vento sopra
e aqui dentro do meu peito
meio sem jeito
meu coração chora e implora
por teu rosto e pelo gosto
do teu último beijo.

O que adianta, então,
se andas na contramão
deste sonho bom?
O que adianta estarmos
lado a lado, se nem ao menos
te posso tocar sem que a dúvida
impeça a minha reação?

A chuva já passou.
Nós continuamos parados
esperando que o inesperado
dê alguma sugestão.

A chuva que nos une
não está mais lá fora e agora
onde estamos? Seremos sempre
um engano, uma contradição?

A chuva já passou,
há uma hora não dizemos nada,
apenas olhamos, insones, um para o outro
talvez querendo que o silêncio responda
a esta questão.

Entre nós e a chuva
ainda cabe mais que uma vertigem:
cabe o amor que ronda nossas bocas
desejando loucamente
se manifestar.

Dedico esse poema a alguns dias inexatos.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Quem sabe uma camisa de força (ou de vênus)


não faz sentido rimar amor com flor com dor
você com alguma palavrinha clichê e bum:
roberto & erasmo na vitrola!

seria amor um contrato abstrato
firmado entre apaixonados
a transformar coração-artefato
em coração-moradia?

sim, porque enquanto se ama
se carrega o outro firme no pulso
do peito sem jeito de ser diferente –
eternidade meio indecisa assim
entre o perene e o fugaz.

seria amor algo entre correntes
pingentes amo você desgraçado
culpado por ter-me roubado a razão?

muito cuidado, afinal,
ao se tentar escrever poema de amor
não adianta tomar sonrisal ou, ao deixar
o papel, lavar as mãos com pinho sol:
amar é estar em completo e radiante
estado de rima brega, esse arrebol.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Fla-Flu

Fla-Flu, Fla-Flu
40 minutos antes do nada
Fla-Flu, Fla-Flu
Uma decisão sempre aguardada
Fla-Flu, Fla-Flu
Seu nome deixa a cidade agitada
Fla-Flu, Fla-Flu
Para senti-lo é melhor a arquibancada
Fla-Flu, Fla-Flu
Deixa a torcida hipnotizada
Fla-Flu, Fla-Flu
Heróis ou vilões: uma única jogada
Fla-Flu, Fla-Flu
Comemoro seu êxtase com bandeira esticada
Fla-Flu, Fla-Flu
Comentários sobre a  tática aplicada
Fla-Flu, Fla-Flu
Sorrisos de um lado, a alma lavada
Fla-Flu, Fla-Flu
Toda vitória é muito comemorada
Fla-Flu, Fla-Flu
Tristeza do outro, cabeça inchada
Fla-Flu, Fla-Flu
Toda derrota é página virada
Fla-Flu, Fla-Flu
40 minutos antes do nada
Fla-Flu, Fla-Flu
Nasceu em glória eternizada

Próximo domingo às 16h no Engenhão: semifinal da Taça Rio: FLA-FLU!
VAMOS FLAMENGO!

sexta-feira, 8 de abril de 2011

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos


.a velha casa hoje é a pedra que nunca atirei contra a vidraça! todos estamos mortos: meus avós já não respiram e seus passos não raspam o chão do corredor no barulho noturno tradicional; meus tios estão encravados em suas vidas de sempre – roda girada sem gosto, rotina que arruína – e eu estou aqui nestas entrelinhas no negror das letras que pintam este papel; seus vãos brancos são propositais representam a palidez do gritar tanto que tento e não consigo, são lágrimas que não caem são meu peito como os jardins da frente da velha casa que hoje não florescem estão cinzas cimentados refletindo o calor que em mim peito não há. todos estamos mortos repito! estamos enterrados no jardim da frente da velha casa: o da direita virou nada e o da esquerda está arrebentado – no qual tanto brinquei de supererói. estamos no da frente onde enterrei o Vicente canário do meu avô; numa manhã de domingo o matei. apertei seu peito até que não houvesse forças fôlego: isso sinto aqui comigo hoje, enquanto sou escoiceado de dentro para fora pela saudade que não se distrai de mim. estamos todos a fazer companhia ao Vicente! talvez por isso esse seja o único jardim florido próximo ao portão da velha casa: somos seu adubo! da velha casa só há a sombra que invade meus dias, como se exumasse da memória este empréstimo sem valia sem precisão sem carência sem. como se minha infância não conseguisse cessar de apodrecer em mim e atrofiasse a maturidade inerente aos meus anos; como se a bola que rolava mansa no quintal da velha casa não parasse; como se as árvores do quintal da velha casa dessem frutos o ano inteiro e suas folhas apesar de caídas retornassem aos galhos e tornassem frutos; como se as chuvas permanecessem com seu barulho a levantar o perfume agradável da terra, como se meus olhos pudessem enxergar tudo isso como se pudesse romper meu peito à base de saudade e todos saíssem isentos de tempo impunes por estarem mortos minha infância novamente em meu rosto meus pés descalços percorrendo o caminho dos avós frutas em abundância os jardins iluminados de verde planta Vicente no canto da gaiola meus pés a tocar o perfume do chão molhado no quintal da velha casa a pedra atingindo certeira a vidraça da velha casa: estamos todos mortos! a velha casa repousa em seu endereço habitual não a venderam mas há séculos sigo cego sendo o mofo na parede da sala a falta de sol que transborda sombras nos cantos dos quartos as estantes e guardarroupas e móveis que as traças e cupins comem e vomitam sou; os livros que não li hoje escrevo dos ventres estufados destas saudades ignóbeis que me ruminam saltam sobras rubras de letras pretas a este papel branquinho: quero suas bordas pálidas do grito que não soltam pois todos estamos mortos o que há da velha casa são apenas ruínas restos de frases e gargalhadas de um tempo feliz; o arrependimento de não trazê-la na algibeira dos meus anos meus dias minhas lágrimas que tudo turvam todos vivos nas esmolas de minha esgarçada memória a seu sabor nossos vultos vilipendiado a velha casa no tempo exato em que festejavam o dia dos meus anos no tempo que hoje está morto enterrado a virar plantas verdes a nosso lado engaiolados como Vicente morto primeiro antes de todos mas também por minhas mãos eu como eles também morto hoje