quinta-feira, 26 de maio de 2011

Nós e a chuva

Nós dois aqui sentados
e os sentimentos desajustados:
o que me importa agora é ter-te
bem perto, certo que estou
que o amor que sinto
também arde em ti.

A chuva já passou faz meia hora,
eu preciso ir embora,
pois lá fora o vento sopra
e aqui dentro do meu peito
meio sem jeito
meu coração chora e implora
por teu rosto e pelo gosto
do teu último beijo.

O que adianta, então,
se andas na contramão
deste sonho bom?
O que adianta estarmos
lado a lado, se nem ao menos
te posso tocar sem que a dúvida
impeça a minha reação?

A chuva já passou.
Nós continuamos parados
esperando que o inesperado
dê alguma sugestão.

A chuva que nos une
não está mais lá fora e agora
onde estamos? Seremos sempre
um engano, uma contradição?

A chuva já passou,
há uma hora não dizemos nada,
apenas olhamos, insones, um para o outro
talvez querendo que o silêncio responda
a esta questão.

Entre nós e a chuva
ainda cabe mais que uma vertigem:
cabe o amor que ronda nossas bocas
desejando loucamente
se manifestar.

Dedico esse poema a alguns dias inexatos.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Quem sabe uma camisa de força (ou de vênus)


não faz sentido rimar amor com flor com dor
você com alguma palavrinha clichê e bum:
roberto & erasmo na vitrola!

seria amor um contrato abstrato
firmado entre apaixonados
a transformar coração-artefato
em coração-moradia?

sim, porque enquanto se ama
se carrega o outro firme no pulso
do peito sem jeito de ser diferente –
eternidade meio indecisa assim
entre o perene e o fugaz.

seria amor algo entre correntes
pingentes amo você desgraçado
culpado por ter-me roubado a razão?

muito cuidado, afinal,
ao se tentar escrever poema de amor
não adianta tomar sonrisal ou, ao deixar
o papel, lavar as mãos com pinho sol:
amar é estar em completo e radiante
estado de rima brega, esse arrebol.