sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Mundo quão

eu não quero ter lugar
nunca tive intenção
poeta algum há de estragar
a república de platão

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

1ª Canção de amor

Tuas asas me bastam –
ao meu sonhar ininterrupto,
ao meu ofício em ócio
ou pressa.
Meu peito te basta ao coração –
teu perfeito leito imutável,
intransponível morada onde repousas
tua pele de rosa/fonte.
Saudade de ti não me rompe a carne,
faz cócegas! Dela caçoo
enquanto passeio por entre nossas
paisagens por ter em mim a certeza
de sempre te alcançar.

Teu sorriso me basta à vida
por iluminá-la, arrebatá-la
como fogos de artifício a
adornar o céu de tua mansidão.
Temor não tenho
porque perder-te seria ter
amor amputado do que me do corpo sobrasse:
sombra apenas só!

És meus passos pois fazemos
o caminho conhecido, juntos,
e teamar! hoje se equipara
a respirar.

Mora em ti a ilusão do verso –
gesto extremo ao que
se mova (aí) fora da canção.

Ao meu grande amor, Vanete Oliveira, minha noiva, meu amor!

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

AutopsicoBrasília

O político é um fingidólar
e não lhe interessa qualquer merreca
seja peso real euro dólar
o que não cabe na meia ele esconde na cueca.

E os que veem o que faz
na revolta contida se detêm
não pelo punhado que com ele jaz
mas pelo tanto de que se quedam sem.

E assim os canalhas de sua roda
o absolvem sem muito pensar
pois os próximos a terem o pescoço na corda
são seus pares, sempre prenhes de pesar.

Nonada


– “Meu amor!...”
viver é muito perigoso
pão ou pães, é questão de sertães...

aqui a estória se acabou.
aqui, a estória acabada.
aqui a estória acaba.

eu quase que nada não sei.
mas desconfio de muita coisa.

falsa
verdadeira
inventada.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Quanto vale?


Quanto vale a dignidade
de um homem? Um pão?
Um mísero trocado?
Um favor ou uma laje
de concreto armado?

Quanto vale a conduta
de um homem?
Uma pérola ou um
chiqueiro? Um milhão
ou um país inteiro?

Quanto vale um voto?
Um jogo de camisas
de futebol? Um lugar ao sol?
A anticonsciência
da corrupção? A insatisfação
do dever amolecido
ou a certeza do direito
corrompido?

Quanto vale o poema?
(Este, não está à venda).

Medalha de Prata Academia de Letras e Artes de Paranapuã/RJ e 1º Lugar Nacional Prêmio Missões – Igaçaba Produções/RS

Como comer uma banana sem queimar as mãos


1 – compre uma luva muito grossa;
2 – proteja o peito com um
      colete de chumbo;
3 – o rosto guarde-o sob máscara
      de soldador;
4 – quadril pernas pés
      quedem desnudos;
5 – a banana que mais o seduza
      tome-a cuidadosamente;
6 – não perca tempo a procurar
      um possível zíper escondido;
7 – sem compaixão arregace o amarelo
      destacado em tuas mãos;
8 – jamais pisque os olhos!

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Ogiva

meu coração –
esta ogiva –
te porta em caos:

aos berros bates a porta –
que não é verbo! –
sais sem ais nem uis
deixas de minha boca uais
pendendo à procura de sôs
conclusivos puta que pariu
me escapa no lugar de por quê?

meu coração –
esta marquês de sapucaí pocket –
te recebe em festa
raiva rugiu regeu o caos da outra estrofe
mas amor é bálsamo é vacina é o que há
de bão! urros agora são sussurros
socos e pontapés nem pela imaginação
passaram – arma de poeta é lágrima
preta posta na folha de papel!

meu coração –
esta caixinha de música –
te embala bailarina terno
ainda que te oferte rima brega
coitado: quem mandou gostar de
roberto & erasmo!

Para Paula


Pare, pense, Paula:
veja bem o que você fará!
Você é uma bonita morena –
uma mulata (desbotada)
que não sabe sambar!
Ajuda todos sem pensar.

Maria, bela Maria de campos quentes:
quente Ubá, berço da juizforanizada;
quente Rio de Janeiro que a acolheu,
frias ruas de São Paulo que você percorreu;
Paula, paulatinamente
matou a saudade na pauliceia
e voltou para Minas para alegrias Gerais –
ainda mais para o Pinheiro,
o seu doce-amado companheiro.

Seus gestos de pura nobreza
refletem sua alma de grande beleza.
Mãe-maravilhosa-mulher!
Exemplo, pronta para o que der e vier;
fala muito por que tem o que dizer,
com categoria de quem sabe viver.

Maria, não é apenas mais uma Maria!
É Mariamada por todos,
é Mariapaulagindo para
acolher uma amiga perdida.
Eu sei que você não é perfeita –
você é mulher-guerreira,
aquela que toda mulher queria ser,
a mãe que todo filho queria ter.

Paulamiga, Paulamor,
Paulamada, Paulabençoada,
Paulamo você!

À minha mãe amada: muito obrigado por me ensinar a sonhar!
Feliz aniversário!

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Alegria de ser rubro-negro!


Não adianta encherem minha paciência com essa história de time de desdentados, favelados etc: qual o problema? A maior torcida do mundo dá espaço para todos! Nos textos do Rubem Fonseca sempre há um ou outro personagem sem dentes; no Cão sem plumas do João Cabral, também. E daí? São menores? Quanto ao nosso ex-goleiro, pior ainda! Se um funcionário de um banco ou de uma empresa de comida rápida fosse acusado de matar alguém, será que as pessoas deixariam de freqüentar esses locais? Ignorância pensar que todo rubro-negro é bandido! Ou melhor: bandido-banguela! Acho que os adversários do Flamengo devem até reconhecer nossa generosidade ao permitirmos que todos – entenderam né: TODOS – os jogos comecem no 0x0! Pela nossa história, pela nossa raça, pela nossa camisa, pelas nossas cores, no mínimo 3x0 para nós! Juiz apitou, placar eletrônico: Mengão 3 x 0 outro! No mínimo!
Agora, sem brincadeiras: tenho orgulho de ser rubro-negro! Assistir aos jogos do Flamengo na casa da minha tia Terezinha Sônia sempre será uma alegria imensa, independentemente do resultado final; maneira mais gostosa de reunir a família não há. Minha noiva – meu grande amor – até que é cruzeiro, sabe por causa de quê: porque ganhou do Flamengo! Gosto de futebol, gosto de jogar bola, sou apaixonado pelo rubro-negro carioca, porém, sem as cretinices de brigar, colocar a vida na roleta-russa do “meu é melhor”; respeito os outros times, a grandeza dos outros clubes, suas histórias, conquistas, torcidas. Entretanto, Flamengo é Flamengo! É sofrido, é gol de canela, é falta aos 43 do segundo tempo, é a mesma desculpa alheia que envolve a idoneidade dos árbitros etc. Lamento pela situação atual do clube, por toda a incompetência vigente, pelos esqueletos apodrecendo sem se desfazerem nos armários, pelas acusações vazias, pelo Zico, pelo Andrade, por quem, como eu, é rubro-negro de pele, de família, de coração. Desde a chegada do Romário em 1995 que não tínhamos uma chance como a que defenestramos este ano. Perdemos a Taça Guanabara, que deveria ter sido prioridade máxima no ano, para o carnaval. Na Libertadores, a pressão pesou sobre os ombros combalidos dos deslumbrados campeões brasileiros. Daí para frente, todos já sabemos. Resta-nos torcermos para que o instinto vencedor de sir Luxa volte e possamos ganhar tudo no ano que vem.
Aos mal-amados que alegam que Flamengo é povão, o verso de Cazuza em Burguesia: “são caboclos tentando ser ingleses”.
Macunaíma, obrigado por essa praga chamada futebol!

FLAMENGO CAMPEÃO!















Não me importo
com as acusações que sofrerei;
tenho consciência de estar sendo
tendencioso nestas linhas pois
não há de se negar voz ao coração:

tremem por temê-lo e ao tê-lo
à frente!

Um mar suspenso, hermético,
numa elipse de concreto:
gente de verdade, de vários cantos,
tons, peles, rostos: gente!
A esperança, para nós, tem duas cores:
intenso vermelho a galopar
por nossas veias, batendo no peito
de orgulho, paixão!;
visceral negro, forte, êxtase
que cega os que nos ousam
tentar superar.

RUBRO-NEGRO!

União perfeita
extrapola estigmas,
faz do impossível ponte sólida
à glória que nos aguarda
logo após a curva do último minuto:
apita o árbitro e o mar não mais se sustenta,
transborda das arquibancadas
numa única explosão de doce redundância:

FLAMENGO CAMPEÃO!

Ecoa pelos ouvidos do povo

Bom, em primeiro lugar gostaria de agradecer por você estar lendo este texto. Considero-o um desabafo, uma carta escrita num exílio maior e mais devastador do que aqueles contados e descritos nas Histórias de nossas escolas sem paredes. Estou preso eternamente dentro de mim. Aprisionado dentro de uma crônica que, o que tiver de realidade, é mera constatação.
O povo anda pelas ruas de seu país cabisbaixo, semblante cansado, olheiras a emoldurarem seus olhos de  semi-sonhadores. Sofredor por natureza, o único assunto que lhe interessa é… futebol! Crise política? Que nada, nós nem votamos nele! O importante é que estamos (e agora a temos!) na Copa!
            Nós quem?!
Dentro de ônibus lotados, cada cidadão elege o seu gol mais bonito. Discussões acaloradas fazem com que o já mal-arejado veículo se torne de vez uma sauna. Os gols ainda estão vivos nos olhos, na memória desse povo. E quem não pensa em futebol, pensa em carnaval e novela! Com revistas de fofocas nas mãos, descobrem quais serão as novas rainhas-de-bateria nas apoteóticas noites de vazio e banalização do corpo desse povo. Festa pagã para um povo que se diz religioso. Festa mesmo será no ano da Copa do Mundo! Mundo arruinado por guerras, preconceitos, ditaduras veladas e aclamadas, eleitas por outros povos, ditos livres, superiores. Bom, eles não gostam tanto de futebol mesmo!
Escravo de salários de fome, o meu povo luta dia após dia por mais respeito e dignidade. Pena mesmo é ficar absorto nas chuteiras coloridas em campos globais. Pena assumir-se cidadão por apenas um mês – entre nove de junho e nove de julho –, encontrar-se zeloso somente de quatro em quatro anos. Durante esse mês de festas e ruas pintadas, paradas, expedientes encerrados antes de começarem, aulas suspensas, tensões, devaneios, hipocrisias & afins; durante esse período, o povo é feliz. Não há guerra ou ataque terrorista que o retire da frente da televisão. Não há juros ou propinas que o demova da ideia de comemorar mais um gol salvador, libertador, capaz de amainar, cicatrizar todas as feridas abertas ao longo de ininterruptos séculos de devastações e segregações.
            Finda o jogo. Se ganham, não é mais do que a obrigação, pois, na verdade somos os melhores, prepotentemente somos os maiores. Temos o rei, apesar de sermos plebeus, terceiromundistas, vassalos, canibais comendo os restos mortais da moral e da ética. Somos campeões do Mundo! Temos bananas, futebol e mulatas! Não importa se somos humilhados, pisoteados pelas botas de uma ditadura invisível; retirados de suas solas feito chicletes malmascados. Somos campeões da Copa! Rolamos em rampas de promessas não cumpridas, sorrimos aos heróis, estendemos as mãos, não apenas para cumprimentá-los, mas também para pedir um pedaço de pão, pois nossa barriga insiste em nos lembrar que temos fome e que gols não enchem o bucho do povo.
Gols esses que continuam ecoando pelos ouvidos do povo. Ecoam feito as botinas de soldados marchando por sobre seus próprios túmulos. Ecoam feito o mais corrompido dos gritos desse povo:                                                                               o povo
traído
jamais será
erguido.
Sou apenas um personagem de ficção e, vagando por uma cônica analfabeta, vejo que sou forte e que não desistirei nunca. Serei livre num sonho distante, qualquer.

Novo coração


um novo coração nos veio ao mundo
em movimento perfeito deixa o ventre –
seu lar primeiro – e eis que surge
aos ansiosos olhos de todos nós:
mamãe papai avós
aos amigos daqui de Minas bate forte por email
a feliz notícia dada pelo babão vovô por todos
tão querido – linhas que anunciam que seu primeiro
netinho, Bruninho, havia nascido – em júbilo todos a Deus agradecemos
e por pensamentos bons abraços enviamos.

que seja feliz esse novo puro coração
que cresça viva sinta todo amor
que a ele desde já é direcionado
mamãe papai avós irmãos futuros
amigos todos deem asas força e cuidado
que o caminhar com Deus seja sempre lado a lado
que seja feito de orgulho e paz
esse novo puro belo coração.

por fim desejo que cresça tanto
que mude o rumo dos demais:
cruz de malta é coisa do passado
viva o novo coração rubro-negro!

(Ao nascimento do netinho do Marquinho, meu chefe querido!)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Chorar


quem nunca se escondeu
num banheiro sujo e chorou
chorou sem parar chorou
para aliviar qualquer dor?

dor sem explicação
corrói sem razão quase destrói
o peito carrega para sempre
sonhos & amor.

quem nunca deixou de fazer
algo que tanto queria
e chorou por se arrepender
por perder tempo na vida?

chorou de barriga cheia
chorou de cabeça vazia
chorou pelo que não sabia
chorou pela tentação alheia?

quem nunca se esgueirou
pelos cantos com os olhos marejados
soluçou e engoliu em seco
sustentou a dor no peito corajoso?

chorar faz bem
alivia diminui o tamanho da dor
acaba por fazer o favor
de impulsionar ao que está além.

Teorema


a² + b² = à fatia do previsível que não cabe no poema.

Poemas do coração!

Poema do coração!
Ao meu grande, único e verdadeiro amor, escrevo sem precisar mentir, sem ter de inventar, copiar, sem me valer de qualquer artimanha que não seja o sentimento que corre em minhas veias: amor! A-M-O-R certeza, amor/concreto, amor/em movimento, amor/ não-gago, amor/ força, amor/ asas: amor! Ela, Vanete Oliveira, não gosta lá muito que eu publique nossos poemas –  na verdade, seus, pois os escrevo especialmente para ela! Porém, como sou Tafuri/teimoso, publico! Segue, abaixo, um a você, minha linda!

Desdobramento do dia

quando o tempo não me traz você
o tempo passa devagar o tempo maltrata;
quando passo por tua rua janela sem a ver
a rua nem parece a mesma a janela não emoldura;
quando vou almoçar e no caminho não a encontro
o caminho é labirinto minado passos em falso
me conduzem a um restaurante vazio de você
portanto pobre raquítico desalimentado;
quando o tempo passa e seus passos ainda não
foram capazes de reduzir a distância entre nós
a saudade tripudia caçoa malvada açoita chibata
que corta a pele e sangra por dentro; porém
teu leito perfeito é suficiente para vencer qualquer
carência seu rosto não desbota denuncia alegria
intensa suficiente de tão imensa completa meu dia
traz à tona seu sorriso meu lume conduz-me ao cume
do dia: ver você chegando me abraçando devolvendo
a ordem a tudo; quando você está grudada em meu abraço
sugo seu beijo com carinho retornando a seus devidos
lugares a geometria do mundo a vida agora é feita de paz
ouço sua voz e me energizo trato de esquecer os percalços
encho o peito e digo o que guardo a sete chaves só a você:

EUTEAMO!

ô certeza gostosa!

(Quebrando) Objetos Inúteis

Aí ao lado está a capa aberta de meu segundo livro, o qual foi publicado em edição do autor, 100 exemplares, tiragem já esgotada, graças a Deus. Segue abaixo um poema que faz parte de suas páginas e reflete bem o sentido do título deste blog:

Autopsicogracinha

nada do que aqui escrevo
é verdadeiro:
sou um engambelador,
não sinto, somente escrevo,
finjo descaradamente –
exceto o que venha do coração.

sou um burocrata, um verme
vomitando versos vis, volúveis,
vilipendiando virgens papéis
branquinhos, com minha caneta/cursor
sedenta por letras organizadamente
sem sentido, objetos à procura de utilidade,
ordenhados a custo de suor e pensamento.

nada do que aqui escrevo
existe:
não há dor, sorriso ou graça;
não há rosto, gosto ou fuga;
musas me abandonam a rodo;
vertigens não me tentam mais;
enumerações babacas adornam
algo que ouso batizar: poema!

não estou em alto mar e fronteiras
não me tornam; embarcações ou
multidões não acompanho, sou
estranho nesta folha, mim-lírico,
torto tonto turvo truco(e)lento;
não habito o poema: o escrevo!
não-pessoa-campos-caeiro-reis,
sem dor a ser lida, sem corda
ao pescoço, coração.

fingidor completamente
em
nada do que aqui escrevo.

Do que seja "poesia"

Bom, muitos acham que "poesia" é algo que é sentido pelo poeta, que é algo que o poeta tem por pensamento a nortear sua vida. Bobeira! "Poesia" é muito mais suor do poeta que sentimento. Claro que escrevo sentindo – meus poemas do coração. De resto, não! São apenas palavras, nada mais que isso. Pensar que poetas sempre escrevem sentimentos, ideias, nortes de vida é ser ingênuo ou idiota. Coisa que teimo em não ser!