quarta-feira, 20 de outubro de 2010

(Quebrando) Objetos Inúteis

Aí ao lado está a capa aberta de meu segundo livro, o qual foi publicado em edição do autor, 100 exemplares, tiragem já esgotada, graças a Deus. Segue abaixo um poema que faz parte de suas páginas e reflete bem o sentido do título deste blog:

Autopsicogracinha

nada do que aqui escrevo
é verdadeiro:
sou um engambelador,
não sinto, somente escrevo,
finjo descaradamente –
exceto o que venha do coração.

sou um burocrata, um verme
vomitando versos vis, volúveis,
vilipendiando virgens papéis
branquinhos, com minha caneta/cursor
sedenta por letras organizadamente
sem sentido, objetos à procura de utilidade,
ordenhados a custo de suor e pensamento.

nada do que aqui escrevo
existe:
não há dor, sorriso ou graça;
não há rosto, gosto ou fuga;
musas me abandonam a rodo;
vertigens não me tentam mais;
enumerações babacas adornam
algo que ouso batizar: poema!

não estou em alto mar e fronteiras
não me tornam; embarcações ou
multidões não acompanho, sou
estranho nesta folha, mim-lírico,
torto tonto turvo truco(e)lento;
não habito o poema: o escrevo!
não-pessoa-campos-caeiro-reis,
sem dor a ser lida, sem corda
ao pescoço, coração.

fingidor completamente
em
nada do que aqui escrevo.

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